@prof.legeo 03/12/2024
O conflito entre israelenses e palestinos é um dos mais prolongados e complexos da história contemporânea, com raízes que remontam ao final do século XIX, quando o movimento sionista começou a reivindicar a criação de um Estado judeu em resposta à crescente perseguição aos judeus na Europa. Essa visão encontrou um palco propício na Palestina, então sob domínio otomano, onde vivia uma maioria árabe-palestina. A tensão inicial entre judeus imigrantes e os habitantes árabes da região intensificou-se após a Primeira Guerra Mundial, quando a Palestina foi colocada sob mandato britânico.
A Partilha da Palestina e a Criação de Israel (1947-1948)
A virada decisiva ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, quando o Holocausto expôs a necessidade urgente de um lar seguro para os judeus. Em 1947, a ONU aprovou um plano de partilha da Palestina, propondo a criação de dois Estados, um judeu e um árabe, enquanto Jerusalém seria internacionalizada devido à sua importância religiosa global. No entanto, a proposta foi rejeitada pelos árabes, que viam na partilha uma imposição colonial e uma violação de seus direitos à autodeterminação.
Em 1948, a independência de Israel foi proclamada, desencadeando a Primeira Guerra Árabe-Israelense. A vitória israelense consolidou o novo Estado, mas também resultou na Nakba, ou "catástrofe" em árabe, com cerca de 700 mil palestinos forçados a deixar suas casas. Esse deslocamento criou uma crise de refugiados que até hoje permanece sem solução, com milhões de palestinos vivendo em campos de refugiados em países vizinhos e em territórios ocupados.
A Expansão Israelense e os Conflitos de 1967 e 1973
As tensões regionais aumentaram nas décadas seguintes, culminando na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Israel, enfrentando ameaças iminentes de Egito, Jordânia e Síria, lançou um ataque preventivo e conquistou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, Jerusalém Oriental, as Colinas de Golã e a Península do Sinai. Essa vitória ampliou drasticamente o território sob controle israelense, mas também aprofundou o conflito, pois milhões de palestinos passaram a viver sob ocupação militar. A ocupação desses territórios, especialmente na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, e a construção de assentamentos israelenses em terras palestinas, são considerados ilegais pela ONU e continuam a ser um dos maiores pontos de discórdia no conflito.
A Guerra do Yom Kippur, em 1973, também conhecida como Guerra de Outubro, foi uma tentativa dos países árabes de recuperar os territórios perdidos em 1967. Embora o conflito tenha levado a um impasse militar, ele abriu caminho para negociações que resultariam no tratado de paz entre Egito e Israel em Camp David, em 1979.
A Luta Palestina e a Emergência de Novos Atores
A resistência palestina assumiu diferentes formas ao longo das décadas. Na década de 1960, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) foi criada sob a liderança de Yasser Arafat, com o objetivo de representar os palestinos e lutar pela criação de um Estado independente. Nos anos 1980, a insatisfação popular culminou na Primeira Intifada, um levante marcado por protestos e confrontos entre palestinos e as forças de ocupação israelenses.
Foi nesse período que emergiu o Hamas, um grupo islamista que rejeita a existência de Israel e utiliza estratégias de resistência armada. Diferente da OLP, que em 1993 reconheceu formalmente o Estado de Israel nos Acordos de Oslo, o Hamas mantém uma postura de não reconhecimento e controla atualmente a Faixa de Gaza, onde milhões de palestinos vivem sob bloqueio econômico imposto por Israel e Egito.
Os Acordos de Paz e seus Limites
Os Acordos de Oslo, mediados por Noruega e EUA, representaram uma tentativa histórica de resolver o conflito. Israel e a OLP concordaram em criar a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que teria autonomia limitada sobre partes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Contudo, a expansão contínua de assentamentos israelenses, as divisões internas palestinas e a escalada de violência frustraram os esforços de paz. Em 2000, a Segunda Intifada eclodiu após uma visita provocativa de Ariel Sharon ao Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos.
Jerusalém e os Desafios Contemporâneos
Jerusalém permanece no centro do conflito, reivindicada como capital por israelenses e palestinos. A anexação de Jerusalém Oriental por Israel, onde se encontram locais sagrados como a Mesquita de Al-Aqsa e o Muro das Lamentações, é amplamente condenada pela comunidade internacional, que vê na cidade um possível símbolo de convivência pacífica entre as duas partes.
Nos últimos anos, as políticas de Israel sob o governo de Benjamin Netanyahu fortaleceram a ocupação e expandiram os assentamentos, enquanto esforços de normalização entre Israel e países árabes, como os Acordos de Abraão, ignoraram as reivindicações palestinas. Ao mesmo tempo, o Hamas e outros grupos militantes em Gaza intensificaram ataques com foguetes, levando a represálias israelenses que resultam frequentemente em mortes de civis.
O Futuro do Conflito
A solução de dois Estados, que propõe a coexistência de Israel e um Estado palestino independente, tem enfrentado obstáculos quase intransponíveis. A contínua expansão de assentamentos israelenses, a falta de consenso entre as lideranças palestinas e a polarização política em Israel dificultam avanços significativos. Alternativamente, alguns especialistas discutem a possibilidade de uma solução de Estado único, onde judeus e palestinos compartilhem a mesma cidadania e direitos iguais. No entanto, questões de identidade, segurança e desigualdade tornam essa proposta igualmente desafiadora.
Enquanto isso, a população palestina enfrenta uma realidade de ocupação, bloqueio econômico e deslocamento, enquanto os israelenses vivem sob constantes ameaças de ataques. O conflito Israel-Palestina não é apenas uma questão territorial; ele envolve profundas narrativas históricas, culturais e religiosas, tornando sua resolução um dos maiores desafios da política internacional contemporânea.
Desafios Atuais
O Oriente Médio permanece como uma região marcada por profundas divisões e conflitos. Entre os principais desafios estão:
A contínua expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia, considerada ilegal pela comunidade internacional.
O impasse político sobre Jerusalém, reivindicada como capital tanto por Israel quanto pelos palestinos.
A divisão interna entre grupos palestinos, como o Hamas e a Fatah, que enfraquece a coesão do movimento palestino.
A ausência de consenso entre as potências globais sobre como mediar o conflito, com interesses divergentes de países como os Estados Unidos e a Rússia.
Essas questões estruturais demonstram a complexidade e a profundidade do conflito, que envolve fatores históricos, territoriais, políticos e religiosos.